Cloroquina e hidroxicloroquina: tudo o que você precisa saber
Por Suprevida
Poucos remédios no mundo foram tão discutidos nas mídias sociais nas últimas semanas quanto cloroquina e hidroxicloroquina. Motivos são faltam. Estamos no meio da maior crise sanitária dos últimos 100 anos.
A doença causada pelo vírus que parou o mundo ainda não tem cura. Todos estamos desesperados para a rápida chegada de uma vacina que nos proteja do coronavírus ou pelo menos de um remédio ou um tratamento que nos cure da COVID-19.
E nas redes sociais ou em vídeos exibidos nos portais de notícias, ouvimos o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, e o do Brasil, Jair Bolsonaro, elogiando remédios que, afirmam eles, pode ajudar a nos salvar da COVID-19: a cloroquina e a hidroxicloroquina. Afinal, o que são esses remédios? Para que eles servem? Ajudam para alguma coisa? Será que eles são a bala de prata na luta contra o coronavírus? Leia as perguntas e as respostas abaixo:
1. O que é a cloroquina e a hidroxicloroquina?
A cloroquina foi inventada em 1934 e tem sido usada desde então para tratar a malária em várias partes do mundo. A hidroxicloroquina, remédio derivado da cloroquina, foi inventada durante a Segunda Guerra Mundial como uma alternativa à cloroquina, já que ela gera menos efeitos colaterais. Essa droga também vem sendo usadas desde os anos 40 para tratar malária.
2. Elas servem para tratar que doenças, além da malária?
Além da malária, esses dois remédios vêm sendo usados para tratar doenças reumáticas desde a Segunda Guerra Mundial. Os soldados americanos que lutaram na região do Oceano Pacífico tomavam essas drogas antimalária para se prevenir dessa doença.
Acontece que os médicos que atuavam no front observaram uma redução da gravidade das lesões e dos sintomas de artrite com o uso da cloroquina e da hidroxicloroquina. Isso levou a novas pesquisas sobre a eficácia e aplicação desses medicamentos no tratamento de doenças autoimunes, como é o caso da artrite reumatóide e do lúpus.
3. Como a cloroquina e a hdroxicloroquina funcionam para combater o lúpus?
O lúpus é uma doença crônica que causa inflamação e dor em qualquer parte do corpo. É uma doença autoimune, o que significa que seu sistema de defesa - o sistema imunológico -, que combate infecções, se atrapalha e ao invés de atacar invasores como vírus e bactérias ele ataca os próprios tecidos saudáveis do nosso corpo. O lúpus geralmente afeta:
- a pele
- as articulações
- os órgãos internos, como rins e coração
Como o lúpus afeta muitas partes do corpo, ele pode causar muitos sintomas diferentes.
A hidroxicloroquina é remédio feito a partir da cloroquina e é o antimalárico mais comum dado para o tratamento do lúpus. A hidroxicloroquina tem vários efeitos no sistema imunológico, ajudando a aliviar dores musculares e articulares, reduzir erupções cutâneas, inflamação do revestimento do coração, inflamação do revestimento do pulmão e outros sintomas do lúpus, como fadiga e febre.
Ela também podem impedir que o lúpus se espalhe para certos órgãos, como o rim, o cérebro e a medula espinhal, além de ajudar a reduzir os surtos em até 50%.
Segundo o Centro de Lúpus da Universidade Johns Hopkins, uma das mais conceituadas dos Estados Unidos, ela pode ser chave para controlar o lúpus a longo prazo.
4. Como a cloroquina e a hidroxicloroquina ajudam quem tem artrite reumatóide?
A artrite reumatóide também é uma doença autoimune que leva o sistema de defesa do corpo a atacar tecidos que são saudáveis. Ao fazer isso, ela causa a inflamação das articulações, levando a dor, inchaço e rigidez dessas articulações. A artrite pode afetar qualquer pessoa de qualquer idade.
A hidroxicloroquina faz parte de uma categoria de remédios chamados de Modificadores de Atividadade da Doença, ou na sua sigla em inglês, DMARD. Isso significa que esses remédios não curam, mas conseguem manter os doentes mais confortáveis e prolongar o tempo em que eles gozam de plena funcionalidade.
A hidroxicloroquina consegue modificar a atividade do sistema de defesa, o que muda o curso da doença. Ou seja, ela modifica a atividade do sistema de defesa, ao invés de simplesmente tratar os sintomas.
5. E para a COVID-19? Funciona?
Muitos estudos já foram feitos sobre os efeitos da cloroquina e da hidroxicloroquina para o tratamento da COVID-19. Logo no início da pandemia, um estudo francês e um chinês, muito pequenos, ou seja, que acompanharam apenas pouquíssimas pessoas, chegaram a afirmar que os medicamentos ajudavam quem tinha a doença.
Foi o estudo francês que provocou a animação de alguns presidentes, inclusive o americano e o brasileiro. Mas os cientistas dizem: como acompanharam pouquíssimas pessoas, não dá para dizer que eles são estatisticamente significativos.
Só que à medida que os casos aumentavam e o número de pesquisas também, começou a se verificar que a cloroquina e a hidroxicloroquina faziam mais mal do que bem para a COVID-19. Pior: aumentavam as chances de o doente morrer.
Um estudo publicado em maio pela revista Lancet parece ter sido a pá de cal em cima das esperanças pela cloroquina como opção para o tratamento da COVID. Antes de mais nada, a revista Lancet é a mais prestigiosa revista médico-científica do mundo. Ela é tão considerada que pesquisas publicadas lá inspiram políticas públicas!
O estudo publicado na Lancet acompanhou 96 mil pessoas, um número muito considerável, sendo que quase 15 mil receberam hidroxicloroquina ou cloroquina, sozinhas ou junto com um antibiótico. Os pesquisadores verificaram que não só os remédios não trouxeram benefícios para os doentes como os doentes tiveram mais chance de morrer no hospital e de desenvolver complicações no coração do que outros pacientes da COVID.
Você pode se perguntar: mas ela não é usada para tratar lúpus e artrite? Sim. Isso não significa que ela possa ser usada para tratar a COVID. Veja o caso da aspirina. Ela é usada para tratar dor de cabeça, certo? Mas não pode ser usada por quem tem dengue.
6. Quais são os efeitos colaterais?
Os principais cientistas do mundo têm alertado contra o uso desses medicamentos. Cloroquina e hidroxicloroquina trazem efeitos colaterais graves. Tanto é assim que não é todo mundo que tem artrite que pode fazer uso desses remédios.
Por exemplo, quem tem artrite tem de fazer um exame de sangue para verificar se o fígado e os rins estão funcionando normalmente. Os médicos também costumam perguntar se o doente tem algum problema de visão. A hidroxicloroquina geralmente não é prescrita para quem tem algum problema na mácula, a parte central da retina no olho.
No caso da COVID, elas podem desencadear arritmia cardíaca, que pode levar a um infarto em casa! A coisa é tão rápida que não dá tempo de a pessoa chegar no hospital. Os medicamentos também podem causar perda de visão, a chamada retinopatia.