A Inteligência Artificial pode ajudar orientando pacientes para o antidepressivo mais eficaz
Por Serena Gordon
A escolha do antidepressivo certo para alguém que está deprimido pode ser um sucesso ou um fracasso. Mas um novo estudo mostra que a tecnologia de inteligência artificial (IA) pode ajudar.
Os pesquisadores inserem informações de sinais elétricos no cérebro em um programa de computador que aprende com base na atividade cerebral. Com isso, a tecnologia da IA ajuda a prever se um antidepressivo ajudará ou não no tratamento da depressão de uma pessoa em particular.
Até agora, a nova tecnologia foi testada apenas em um tipo de antidepressivo - sertralina (Zoloft). Mas os pesquisadores pensam que será útil para outros antidepressivos. Eles também esperam que possa prever como outros tipos de tratamentos para depressão podem funcionar, como a estimulação magnética transcraniana.
"Agora, na psiquiatria, quando vemos um paciente com depressão, temos muito pouca ideia de qual será o tratamento mais eficaz. Então, começamos o tratamento como tentativa e erro, o que pode levar a muita frustração", explicou o autor sênior do estudo, Dr. Amit Etkin, professor de psiquiatria na Universidade de Stanford, na Califórnia. Atualmente, ele está de licença de Stanford para trabalhar no desenvolvimento dessa tecnologia como CEO de uma empresa chamada Alto Neuroscience.
"Não é que os antidepressivos não funcionem bem. Alguns funcionam extremamente bem. Um teste objetivo pode ajudar a preencher a lacuna no conhecimento de quais tratamentos são eficazes e para quem serão eficazes", disse Etkin.
Enquanto a depressão é geralmente considerada uma doença, os profissionais de saúde estão cada vez mais reconhecendo que existem diferentes tipos de depressão. E, assim como um medicamento que trata um tipo de câncer de mama não funciona bem em outro, Etkin disse que as pessoas não deveriam pensar em antidepressivos como “tamanho único”.
A nova tecnologia utiliza um teste de baixo custo prontamente disponível, chamado eletroencefalograma (EEG). Durante um EEG, os eletrodos são colocados por toda a cabeça. Esses eletrodos medem a atividade elétrica no cérebro. Para o paciente, é semelhante a medir a atividade elétrica do coração com um eletrocardiograma (ECG).
Os pesquisadores disseram que, nas últimas duas décadas, a pesquisa sugeriu que um EEG pode ser usado para prever diferenças na depressão. Eles combinaram as descobertas do EEG com um sofisticado programa de computador que aprende como cada tipo de depressão responde a um medicamento específico.
O presente estudo incluiu mais de 300 pacientes com depressão. Eles foram selecionados aleatoriamente para receber sertralina ou um placebo. Todos os participantes fizeram um EEG antes de iniciar o medicamento ou placebo.
Etkin disse que "a ferramenta de IA era bastante eficaz em prever quais pacientes se sairiam bem com os medicamentos”. Ele disse que os próximos passos daqui são para ver como a ferramenta de IA funciona com outros antidepressivos e com outros tipos de tratamentos para depressão.
Etkin acrescentou que ter um exame médico objetivo pode ajudar a desigmatizar a depressão.
Os resultados foram publicados em 10 de fevereiro de 2020 na revista Nature Biotechnology.
A Dra. Shawna Newman é diretora de psiquiatria infantil e adolescente no Hospital Lenox Hill, em Nova York, e não fazia parte da pesquisa. "O objetivo do estudo é ilustrar uma abordagem objetiva e 'baseada em biologia' para o tratamento de uma doença que afeta milhões de pessoas em todo o mundo", disse ela.
"A capacidade de direcionar o tratamento da depressão de maneira consistente e eficaz com resultados previsíveis pode mudar profundamente não apenas a trajetória de uma doença, mas também potencialmente alterar a percepção que temos da própria doença", observou Newman.
O psiquiatra Dr. Scott Krakower, do Zucker Hillside Hospital em Glen Oaks, NY, também revisou o estudo. "Embora haja limitações para o estudo atual, o que está claro é que este é mais um passo para integrar a biotecnologia no campo da psiquiatria", disse ele. Krakower disse que os pacientes com depressão geralmente precisam tentar vários tratamentos antes de obter algum alívio da depressão. "Um EEG é uma estratégia simples e relativamente econômica que pode ser altamente benéfica a longo prazo", afirmou ele.