Desnutrição em idosos: uma epidemia invisível
Por Suprevida
Muito se fala sobre a epidemia de obesidade e como ela se tornou um problema de saúde pública dos mais graves, pois ela vem fazendo a incidência de diabetes 2 ir às alturas. Porém, pouco ou nada se divulga sobre a desnutrição e subnutrição que acometem idosos.
Em 2016, um levantamento da Universidade da Carolina do Norte (Estados Unidos) apontou que 76% dos idosos que estavam internados em um hospital estavam mal nutridos. Os resultados do estudo embasaram o comunicado da Sociedade Americana de Gerontologia, que declarava: vivemos uma epidemia de desnutridos.
Pesquisas no Brasil confirmam o achado americano. Um estudo publicado em 2014 na Revista de Geriatria e Gerontologia constatou que de 30% a 50% dos idosos hospitalizados estão desnutridos, enquanto o Consenso de Nutrição e Disfagia em Idosos Hospitalizados dá conta de que a desnutrição em idosos institucionalizados, mas sem doenças agudas, gira em torno de 25% a 65% e de 35% a 65% em pacientes internados.
Desnutrição é a falta de nutrientes no corpo. Podem ser proteínas, vitaminas, minerais ou mesmo decorrente da baixa ingestão de calorias. Ela não acomete apenas idosos com uma condição frágil, que estão abaixo do peso ou que passam fome nas ruas ou ainda que não têm acesso a alimentos saudáveis. Pelo contrário, ela pode estar presente também em obesos.
O que acontece é que quem já ultrapassou os 60 passa por uma série de mudanças físicas e psicológicas que, se não se prestar atenção a elas, podem resultar em desnutrição ou subnutrição. Veja só:
A perda de massa muscular com o envelhecimento causa também diminuição da força muscular e, com isso, uma redução da mobilidade. Quem nunca conheceu um idoso que se movimenta pouco porque tem dificuldade até para levantar da cadeira?
Com a perda de massa muscular, não é tão necessário mais ingerir a mesma quantidade de calorias de antes, porém, continuam sendo igualmente ou até mais importantes a ingestão de vitaminas, minerais e proteínas.
É fato. Com o envelhecimento, tendemos a ter mais chance de perdermos dentes. Cerca de 80% dos idosos brasileiros, segundo uma pesquisa da USP de 2010, têm menos de 20 dentes. Esses problemas com a dentição, gengivas e até com a dentadura podem limitar a escolha de alimentos pelo idoso.
Com o envelhecimento, passamos por uma alteração nos nossos órgãos de sentido. Isso leva, por exemplo, a uma perda do paladar. Quem tem prazer em comer se tudo passa a ter menos sabor? A perda visual nos idosos também leva à dificuldade de preparar os pratos.
Hipertensão, diabetes, doenças do coração são mais comuns em idosos do que em jovens. Essas doenças podem afetar o consumo de alimentos e as necessidades nutricionais – por exemplo, a absorção de alguns nutrientes cai com o passar dos anos.
Eis outra condição que pode tornar a ingestão de alimentos mais difícil. Idosos com demência têm, entre outras coisas, mais dificuldade de mastigar e engolir, além de não conseguirem preparar sua alimentação e terem dificuldade de expressar quando têm fome ou sede.
Alguns estudos feito em 323 casas de repouso mostraram que 86% daqueles com demência avançada têm problemas com a alimentação.
Depressão é uma das doenças mentais que mais afeta o idoso. “Para aqueles que vivem com a família e estão inseridos na comunidade, a prevalência de sintomas depressivos gira em torno de 15% da população idosa. Esse número pode dobrar quando nos deparamos com idosos institucionalizados, que estão em casas de repouso ou asilos. Em pacientes hospitalizados por problemas de saúde, a prevalência chega a quase 50%”, explica Fabio Armentano, coordenador da equipe de psicogeriatria do AME Psiquiatria Dra. Jandira Masur ao site da Associação Paulista para o Desenvolvimento da Medicina. Isso pode comprometer a ingestão de alimentos e, portanto, o estado nutricional do idoso.
O estilo de vida também pode desempenhar um papel importante, especialmente em pessoas idosas que vivem sozinhas e que, por causa disso, comem menos, ou aquelas que têm dificuldade de gerenciar os custos com a alimentação, segundo a Nestlé Health Science.
O custo da desnutrição ao sistema de saúde
Desnutrição em idosos custa caro, muito caro. Nos Estados Unidos, o custo ao sistema de saúde de doenças associadas à desnutrição em idosos é mais de 51 bilhões de dólares por ano, segundo a Alliance for Aging Research. No Reino Unido, a desnutrição custará ao sistema de saúde 13 bilhões de libras em 2020 e, daqui a dez anos, poderá chegar a 15 bilhões, segundo a The Conversation.
Alguns estudos estimam que é de 2 a 3 vezes mais caro tratar alguém malnutrido do que alguém que está bem nutrido – o tempo de internação é maior, as complicações decorrentes da doença que essa pessoa possa ter também, entre outras coisas.
Como identificar os sinais e como prevenir
Não é exatamente fácil identificar os sinais de desnutrição. Primeiro, ela pode progredir ao longo do tempo sem que notemos de imediato. Segundo, porque muito dos sinais são considerados por quem convive com o idoso parte natural do envelhecimento.
Um dos sintomas mais comuns da desnutrição é a perda de peso não intencional. Por exemplo, se ela perdeu de 5% a 10% do seu peso nos últimos 3 ou 6 meses. Assim, é importante avaliar o peso com regularidade. Outra maneira é verificar se a roupa ou anéis passaram a ficar largos – indicativo de perda de peso.
Evidentemente, a perda de peso não é um indicativo exclusivo de desnutrição – ela pode ser sintoma de alguma outra doença. Por isso, é fundamental que quem convive com o idoso – sua família, amigos ou um cuidador – procure outros sinais, como cansaço, mudança significativa no humor, fraqueza, perda de interesse na comida e na bebida.
Uma das primeiras providências é fazer com que o idoso ingira mais calorias e mais proteínas. Eis algumas medidas que você, que faz parte do círculo social do idoso, pode implementar e que vão ajudar:
- encorajá-lo a comer menos em cada refeição, mas comer mais vezes ao dia, introduzindo uns lanchinhos no meio da manhã e da tarde
- ele gosta de leite, de sopa? Acrescente suplementos nutricionais hipercalóricos e que tenham alto teor de proteína a esses alimentos
- encha a geladeira de alimentos com alto teor calórico e com alto teor de proteína, como leite A integral, queijos, iogurtes integrais
- uma ideia é pré-preparar os pratos da semana e congelá-los, para que fique mais fácil para o idoso se alimentar
Claro que melhorar a qualidade nutricional da dieta pode não resolver, principalmente se o idoso tem problemas com os seus dentes ou tem problemas para mastigar ou engolir. Talvez seja necessário, por exemplo, outros suplementos nutricionais, administrados via oral ou mesmo enteral.
Outra medida que pode contribuir é procurar conversar com o idoso que mora sozinho. Vários levantamentos já mostraram que fazer as refeições em um ambiente em que há maior socialização pode melhorar a ingestão de alimentos pelo idoso.
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